Rádios Comunitárias como ferramenta ao desenvolvimento sustentável
Imaginem uma paisagem linda em frente ao seu nariz, e do nada, alguém começa construir uma planta hidroelétrica neste local. Sem ter sido consultado antes, você começa a se informar e logo descubra que o que era um área de proteção ambiental se torna um canteiro de obras do qual a sua comunidade será removida – em nome de um “progresso nacional” que justifica a implementação de tais megaprojetos como um mal lamentável mas necessário para o bem de todxs. Você ficaria em estado de choque, logo começaria a gritar, primeiro para reclamar e logo para organizar algum tipo de resistência contra esta estranha ideia do que significa progresso, só que ninguém vai ouvir você…
Para ser ouvido, fazer rádio sempre é uma boa ideia. A grande pergunta até alguns meses atrás era: os atingidos pelo “neo-desenvolvimentismo” usam as ondas eletromagnéticas para se comunicar? O estudo “Mapeamento de mídias cidadãs como ferramenta ao desenvolvimento sustentável” busca responder pelo menos partes desta inquietude. O trabalho da professora Rosane Steinbrenner (associada da Amarc Brasil) e Brunella Velloso leva o nosso olhar a “Amazônica legal” brasileira. Existem muitos mapas dessa região, mas não existia nenhum que cruzasse os dados relevantes para o pergunta que nos interessa: existentes ou projetadas hidroelétricas, zonas de preservação ambiental (unidades de conservação), comunidades tradicionais e logo, rádios comunitárias.
Como a tecnologia nunca é socialmente neutra (não somente no caso das hidroelétricas) foi muito coerente das pesquisadoras usar o software livre “Mapas de vista” (um tema do CMS WordPress) para visualizar os seus resultados e os colocar o livre acesso no site www.projetomacam.net/site. Vale a pena pesquisar nessa plataforma e começar a sua própria pesquisa. Porém a equipe de Steinbrenner já publicou também um informe que resume o seu trabalho. Primeiro, chama a atenção o grande numero estacões: “504 rádios comunitárias estãolicenciadas em mais da metade (57,5%) dos 772 municípios dos nove estados que formam a Amazônia Legal. Logo é interessante que quase a metade das estacões “estão localizadas em município (sic) que possuem em seus territórios Unidades de Conservação” e finalmente que “[d]o número de 13 projetos de hidrelétricas para a Amazônia, todos eles situados ao menos em um município que abriga rádio comunitária.” Juntando estas cifras pode ser constatado que quase a metade dos 23 municípios afetados pela construção de hidroelétricas contam com Unidades de Preservação ou comunidades indígenas – e 17 rádios comunitárias.
Que nos dizem estes dados? Até agora indicam sobretudo uma proximidade dos diferentes processos sociais mas falta pesquisar mais para entender bem como interagem. Um fator chave será aproximar-se das próprias rádios comunitárias para saber quem as organiza, se são pertencentes às comunidades tradicionais ou à laranjas de algum politico local – tudo é possível. Porém a existência dessas rádios apontam para um potencial de resistência da população local para fazer um grito na defesa de um desenvolvimento sustentável…
Para saber mais: